A primavera é das aves!



O Brasil apresenta uma das mais ricas avifaunas do mundo e o interesse dos homens por esse grupo vem desde o período pré-histórico, com registro de pinturas em paredes de cavernas de algo parecido com uma ave.

São ótimos indicadores biológicos da qualidade de determinado habitat, alvo de inúmeras pesquisas, projetos de conservação e sempre estiveram presentes nos lares como animais de companhia.

A estação mais florida do ano interfere diretamente no comportamento das aves, que incentivadas pela fartura de alimentos, tem o sinal necessário para o início do período reprodutivo.

A reprodução nas aves é um evento complexo que envolve uma interação entre os sistemas neuroendócrino e reprodutor, e somado a fatores ambientais, resulta na manifestação de comportamentos sexuais e eventos relacionados com a reprodução.

O estímulo ambiental que mais exerce influência sobre a periodicidade reprodutiva é o fotoperiodo (período de luz diário), que adicionado dos demais fatores (pluviosidade, temperatura, estado nutricional e interações sociais) determinam o início da reprodução.

Nas aves, a elevação do fotoperíodo na primavera estimula a secreção de hormônios específicos que elevam o desenvolvimento e atividade reprodutiva. Somente após as aves serem capazes de responder imediatamente às mudanças no fotoperíodo é que os fatores ambientais suplementares podem influenciar no tempo e na velocidade da reprodução.

Nesse período, aumenta a casuística do atendimento em aves seja na clínica ou criatórios assistidos por nós, e os distúrbios reprodutivos são diagnosticados com frequência. Os sinais clínicos manifestados podem ser sutis, mas se não diagnosticados e tratados da forma correta, podem desencadear quadros graves potencialmente fatais, exigindo intervenções imediatas e tratamentos de longo prazo.

A retenção de ovo ou distocia é um problema bastante conhecido dos proprietários de calopsitas e periquitos australianos, com ocorrência comum também em papagaios. Conhecido popularmente como “ovo preso” ou “ovo atravessado”, é uma condição normalmente causada por deficiência nutricional (dieta inadequada, pouco cálcio e vitaminas), estresse, obesidade (semente de girassol em excesso), malformação dos ovos e infecções sistêmicas. Em alguns casos pode ser necessário procedimento cirúrgico para remoção do ovo.

Outra situação comum é a postura crônica, ocorrência comum em fêmeas sexualmente maduras, e é quando a ave permanece fazendo postura de ovos de forma indefinida e prolongada. Esse quadro pode levar ao enfraquecimento do animal e hipocalcemia, visto que o principal componente para formação da casca do ovo é o cálcio. Também pode trazer outras complicações como distocia, enfraquecimento da estrutura óssea levando a fraturas espontâneas, e inflamações de oviduto.

Dentre as causas mais comuns estão dietas inadequadas, fotoperíodo elevado (aves alojadas dentro de casa sob efeitos da iluminação artificial), presença de ninho, estímulos sexuais por parte de outra ave ou dos proprietários, objetos, brinquedos, e até espelho.

A alta prevalência de distúrbios decorrentes do manejo inadequado das aves nos mostra a importância da medicina preventiva. O médico veterinário especializado pode esclarecer aos proprietários questões fundamentais sobre o correto manejo, nutrição e sanidade, e assim evitar a propagação de doenças infecciosas e zoonoses.