Coronavírus e Animais Selvagens
O Ministério da Saúde confirmou ontem, quarta-feira, 26 de fevereiro, o primeiro caso do novo Coronavírus no Brasil, na cidade de São Paulo. Um homem de 61 anos deu entrada no Hospital Albert Einstein, na terça-feira (25/2), com histórico de viagem para Itália, região da Lombardia. O Ministério da Saúde, em conjunto com as secretarias estadual e municipal de São Paulo, investigava o caso desde então.
Ao confirmar o primeiro caso no país, o ministro da saúde reforçou que já era esperada a circulação do vírus, mas que, diferente dos demais países com transmissão, o Brasil ainda não está no inverno, período em que há maior risco de contágio e propagação do vírus.
Em Ribeirão Preto, distando da capital do estado cerca de 315 km, o primeiro caso suspeito de infecção pelo novo Coronavírus (Covid-19) foi notificado pela Secretaria Municipal da Saúde nesta quinta-feira (27), por meio de um hospital privado da cidade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, temos registro de casos do novo coronavírus em pelo menos 14 países e também a confirmação de que o risco internacional de contaminação é elevado, e diante do problema, nada mais útil do que informações relevantes para a comunidade.
Os Coronavírus (CoV) são uma família de vírus de RNA (ácido ribonucleico). São chamados Coronavírus porque a partícula do vírus exibe um formato característico parecido com uma “coroa” de proteínas em torno de seu envelope lipídico. As infecções por CoV são comuns em animais e humanos,e algumas cepas de CoV são zoonóticas, o que significa que podem ser transmitidas naturalmente entre animais e humanos, ainda que muitas cepas não sejam zoonóticas.
Em humanos, o CoV pode causar doenças que variam do resfriado comum a doenças mais graves, como a Síndrome Respiratória no Oriente Médio (causada pelo MERS-CoV) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (causada pelo SARS-CoV). Investigações detalhadas demonstram que o SARS-CoV foi transmitido de civetas para humanos, e o MERS-CoV de camelos dromedários para humanos.
Em dezembro de 2019, uma variação de Coronavírus, COVID-19, atingiu a população de Wuhan, na China e se espalhou por outros trinta países. O número de mortes tem aumentado: até quarta-feira (28), a Organização Mundial de Saúde confirmou 132 óbitos, com 6.065 casos no mundo.
O Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O que foi descoberto na China é um novo agente, como os tipos que causam o SARS e o MERS. O primeiro caso de Coronavírus em humanos foi documentado em 1937, porém somente em 1965 o vírus foi caracterizado como coronavírus. A despeito de ser uma família de vírus com altas taxas de mutações e recombinações, apenas cinco coronavírus são conhecidos até o momento. A maioria das pessoas se contamina com tipos comuns ao longo da vida.
No campo veterinário, os Coronavírus são monitorados em aves domésticas há muitos anos por conta de seu possível impacto na produção e economia, mas são uma grande família de vírus que circulam entre os animais, incluindo camelos, dromedários, pequenos mamíferos exóticos, canídeos, felídeos, serpentes, peixes, aves e morcegos. Em aves silvestres no ambiente natural, esta é uma área de pesquisa relativamente recente.
Embora a origem do vírus ainda seja desconhecida, cientistas chineses acreditam que a transmissão pode ter ocorrido de serpentes para humanos. Isso porque os répteis em cativeiro podem ser portadores de patógenos que também infectam as pessoas.
Essa não é a primeira vez que a transmissão de doenças de animais silvestres para humanos tem sido a causa de graves epidemias. Algumas espécies de animais selvagens são capturadas na natureza e transportadas juntas em sacos ou pequenas gaiolas ou são reproduzidas intensivamente em viveiros, onde são mantidas em espaços precários e superlotados. Esses locais se tornam verdadeiras incubadoras para a mutação de patógenos, que se tornam mais resistentes e podem ser transmitidos para outras espécies de animais e também para humanos.
Embora haja suspeita de que a introdução inicial de 2019-nCoV aos seres humanos possa ter vindo de uma fonte animal, a rota predominante de transmissão subsequente parece ser entre humanos. As investigações em andamento são importantes para identificar a fonte animal (incluindo espécies) e estabelecer o papel potencial de um reservatório animal.
De acordo com os conselhos oferecidos pela OMS, como precaução geral, ao visitar mercados de animais vivos, úmidos ou de produtos de origem animal, devem ser aplicadas medidas gerais de higiene, incluindo lavagem regular das mãos com sabão e água potável após tocar em animais e produtos de origem animal, evitar tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos e evitar contato com animais doentes ou produtos animais estragados.
Qualquer contato com outros animais possivelmente vivendo no mercado (por exemplo, gatos e cães vadios, roedores, pássaros, morcegos) deve ser estritamente evitado. Também deve ser tomada atenção para evitar o contato com resíduos ou fluidos de animais potencialmente contaminados no solo ou nas estruturas de lojas e instalações de mercado.
As recomendações padrão emitidas pela OMS para impedir a propagação da infecção incluem lavagem regular das mãos, cobertura de boca e nariz ao tossir e espirrar, e cozinhar completamente carne e ovos. Evite contato próximo com qualquer pessoa que apresente sintomas de doenças respiratórias, como tosse e espirros. Carne crua, leite ou órgãos de animais devem ser manuseados com cuidado, para evitar a contaminação cruzada com alimentos não cozidos, conforme boas práticas de segurança alimentar.
O comércio de carne desses animais, além de contribuir para a destruição de habitats, faz com que os seres humanos tenham contato cada vez mais próximo com vírus que eles carregam e que podem se espalhar rapidamente em nosso mundo. Provavelmente existem milhões de vírus não descobertos na vida selvagem, e boa parte deles pode ser prejudicial para a saúde dos seres humanos e do meio ambiente.