Utilização de pelos de animais silvestres para monitoramento ambiental de poluentes



 

O aumento da população mundial seguido de um rápido desenvolvimento urbano e tecnológico, traz consigo alguns problemas ambientais oriundos de ações antrópicas desenfreadas. Sendo assim, novas técnicas de biomonitoramento de poluentes vem surgindo, apesar de que a escolha de um bom indicador seja complexa e por vezes com resultados controversos.

Alguns metais são importantes para o funcionamento dos organismos vivos em geral, desde que exista um equilíbrio. No entanto, a falta ou excesso de alguns pode levar ao desenvolvimento de patologias em animais e também no homem.

Elementos metálicos tais como Cd (cádmio), Pb (chumbo) e Cr (cromo) são muito tóxicos em concentrações baixas, se comparado com outros como Fe (ferro), Zn (zinco), Mg (manganês) e Cu (cobre), que, em geral compõe a estrutura dos seres vivos.

Animais selvagens normalmente estão expostos a metais em seu ambiente natural, vindos do solo, alimentação e contaminação de ações antrópicas. Amostras biológicas de animais como pelos, fígado, cérebro, pulmões, sangue e urina podem ser utilizadas para avaliar e identificar a quantidade de metais presentes no meio ambiente.

Os pelos de animais são ótimos como substrato para investigação de alguns elementos químicos. No geral são bem aceitos em toxicologia, poluição ambiental, criminalística e provavelmente são um indicador ambiental por vezes mais preciso do que cabelo humano, pois estão expostos a contaminação do solo e alimentos.

Mamíferos selvagens podem concentrar e acumular em seus pelos elementos metais de interesse em saúde pública, durante um longo período de exposição, sendo ótimos indicadores de contaminação ambiental, além de constituir um método de biomonitoramento não invasivo.

Os pelos, assim como cabelos, possuem uma capacidade única de manter impresso a imagem do ambiente durante quase toda a vida do animal, e ganham importância assim como outros tecidos, para se avaliar a concentração de metais e os estudos de impacto e consequências para o meio ambiente.

Animais silvestres como lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), irara (Eira barbara), mão-pelada (Procyon cancrivorus) e quati (Nasua nasua), presentes em áreas conservadas que estão próximas a áreas antropizadas, em situações oportunas de trabalho a campo, podem ter seus pelos utilizados para biomonitoramento, visando conhecer e entender a difusão dos elementos químicos presentes no meio ambiente.

O elemento Fe (ferro) pode ser um dos principais achados durante avaliação, sugestivo de origem geológica através de solos eutroférricos em algumas regiões do Brasil. Outros elementos como Cd (cádmio), Pb (chumbo) e Cr (crômio) podem ter sua origem através da agricultura de fertilizantes e defensivos, já que alguns animais servem de alimentos para outros, e dispondo de uma grande área para deslocamento, podem ter contato com níveis residuais dos elementos em outras áreas com maior ação antrópica.

 

 

 

 

*Agradecimento especial: Instituto de geociências da Universidade Federal do Pará (IG-UFPA)